“Mas a pátria vive bem sem pensamento e sem literatura - por isso, enquanto o Instituto Cervantes abriu 14 centros no Brasil, o Instituto Camões fechou o de São Paulo, mantendo apenas o de Brasília, ligado à embaixada, e com os pouquíssimos recursos do costume. "Sem Inglês Não Há Futuro", clamava um cartão no pára-brisas do meu carro, quando eu saía dessa serenata apaixonada à língua portuguesa que é o filme Fados, de Carlos Saura. A mensagem do Governo Sócrates em todo o seu esplendor técnico: encham-se de inglês e computadores, meninos - não há mais metafísica no mundo senão a dos computadores!
De modo que, em vez de andarmos a chorar, ofendidos, o pífio Acordo Ortográfico, porque os outros meninos (os cento e oitenta e oito milhões de brasileiros, mais exactamente) mudarão menos sinais do que nós, faríamos melhor em nos concentrarmos no que interessa. E o que interessa não é criar um Museu da Língua para fazer ver a São Paulo - mesmo que houvesse dinheiro, e uma soma de talentos tão estrondosa como a que criou aquele museu inigualável, faltar-nos-iam sempre os milhões de visitantes que só a maior metrópole da língua portuguesa consegue atrair.”
Inês Pedrosa, Crónica Feminina
Expresso, 8 de Outubro
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário