Três alunos de Penacova condenados a trabalho comunitário após participação em protesto
22.04.2009 - 12h53 Lusa
Três alunos da Escola Secundária de Penacova foram condenados a penas de trabalho comunitário depois de tentarem fechar a escola a cadeado numa manifestação contra o Estatuto do Aluno, revelou hoje a associação de pais. Os três jovens, agora com 18 anos, frequentam o 12º ano e foram identificados pela GNR a 17 de Novembro último, quando tentavam fechar a escola a cadeado. Levados a tribunal, viram aplicadas penas de 20 horas de trabalho a favor da comunidade, que agora souberam ter de cumprir na própria escola, e à obrigação de apresentações periódicas nos serviços de reinserção social. Numa nota de imprensa subscrita pelo seu presidente, Eduardo Ferreira, a Associação de Pais e Encarregados de Educação afirma que a manifestação teve o apoio unânime dos estudantes, com a recusa colectiva de ir às aulas, nessa manhã. Semanas antes tinham sido os próprios pais a reclamar a alteração do Estatuto do Aluno. "Nessa acção, alguém escolheu cirurgicamente três deles e os acusou, quiçá, de perigosos agitadores, que levados perante a Justiça, são agora notificados a prestar serviço de interesse público, com acompanhamento pelos serviços de Reinserção Social, devendo ainda, quem não beneficiou de protecção jurídica, ter de pagar as custas do processo", acentua. A associação questiona "qual o crime que terão cometido os jovens para terem um tratamento assim?", interrogando se "o direito de manifestação não será permitido em Penacova, e se são estas as lições que a escola e a justiça dão" aos seus filhos. A instituição declara-se solidária e partilha a indignação dos pais, "cientes de que os seus filhos apenas exerciam um direito cívico, em liberdade, vendo-os agora ser tratados como uns delinquentes marginais e ainda sujeitos à humilhação, pelo cumprimento das medidas disciplinares aplicadas". "Regista-se ainda, com preocupação acrescida, que este caso ocorreu no presente ano lectivo e conheceu o seu desfecho no mês em que se comemora o 35º aniversário do 25 de Abril, o dia da conquista da Liberdade", conclui a associação de pais. "Isto é um desincentivo à participação na defesa dos direitos. Que país e que democracia é esta? Todo o país estava contra o estatuto do aluno", comentou à agência Lusa Paula Bernardes, mãe de um dos jovens punidos. "Estavam a defender os seus direitos. Não são nenhuns delinquentes", afirmou Paula Bernardes, acrescentando que os pais terão ainda de suportar as custas judiciais.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1375902
A este propósito deixo os comentários dos meus colegas publicados no mesmo sítio:
22.04.2009 - 23h33 - Ana Clara Almeida, Coimbra, Portugal
Sou Professora na Escola onde estudam estes alunos e não consigo deixar de manifestar o meu total desalento por estarmos a recuar, a desrespeitar, a ignorar e a pisar a LIBERDADE. Tenho vergonha como professora e cidadã por se condenarem jovens adultos que exerceram um acto de cidadania, sem vandalismos, confrontos, ou qualquer falta de educação. O fecho da Escola foi simbólico. Nada teve de criminoso, de assustador ou de condenável. Isto é tudo muito estranho.... e muito perigoso! Este é o país em que vivemos e quando ensinamos que todos devemos estar atentos, ouvir, reflectir e construir uma opinião, a seguir vêm os "Grandes Senhores" mostrar a estes jovens que a LIBERDADE não é para ser respeitada e que devemos condenadar os que lutam por uma vida democrática e digna, de cabeça erguida e cientes de que temos TODOS o direito a ter uma palavra. Estou convosco caros alunos, para TUDO o que precisarem.
23.04.2009 - 10h22 - Vítor Simão, Coimbra
Sou professor destes alunos. Sei, portanto, de quem estou a falar. Ontem, antes de comparecerem no C. R. Social, disponibilizei-me para testemunhar em favor do seu carácter e da sua conduta social. Percebo agora que o fiz demasiado tarde (mas, se o fizesse mais cedo, estariam as entidades interessadas no testemunho de um professor exigente e rigoroso?). Desculpem-me, pois, caros alunos a distração. De facto, temos de estar sempre atentos e, como dizia o filósofo F. Gil, "tentar ver claro". Se estes jovens são considerados delinquentes, a necessitar reinserção social, então, eu sou um perigoso terrorista... Agora a sério: estes jovens são pessoas de bem, portadores de uma saudável irreverência, que exercem com decência, civismo e respeito pelo outro. Se pudessemos dizer isto de todos os cidadãos, a sociedade portuguesa não exalava este odor putrefacto, nem este sabor a ranço, que nos criam náuseas. Em alturas destas lembro-me sempre de palavras do velho Almada: «se o Dantas é português, eu quero ser espanhol». Tenho dito! (Vítor Simão)
quinta-feira, 23 de abril de 2009
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1 comentário:
A única coisa que me apetece dizer perante tal notícia é "sem comentários...".
Patrícia Porto, Mãe, Encarregada de Educação e Professora da Escola Secundária Avelar Brotero em Coimbra
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